O que se espera do envelhecer?
- Helena Kravchychyn

- 26 de jun. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de jan.

No imaginário popular da cultura ocidental moderna, envelhecer tem uma conotação bastante negativa. É comum associar o envelhecimento a morte, falta, doenças e solidão. Parece também que quanto mais anos de vida a pessoa acumula, mais ela sente perder seu valor perante a sociedade. Então, o olhar que tem de si vai sendo atravessado por crenças coletivas de que não é possível envelhecer com alegria, saúde e ter experiências boas e prazerosas com o avançar dos anos.
É verdade que com a idade mais problemas de saúde tendem a aparecer e portanto o indivíduo pode sentir dores físicas que afetam o seu estado geral. Sem dúvida se torna um desafio ficar de bom humor quando o corpo dói com mais frequência do que na juventude e não se tem fôlego para fazer as mesmas coisas de antigamente.
É comum também perder pessoas importantes de sua vida, como irmãos mais velhos, pais e cônjuge. Sentimentos como solidão se tornam mais presentes ao ter que se deparar com a necessidade de continuar vivendo sem o mesmo apoio ou as referências familiares que se tinha.
A aposentadoria, outro acontecimento típico dessa fase, pode abalar o indivíduo, na medida em que perde partes importantes de sua rotina e de seu senso de pertencimento. Afinal, o trabalho muitas vezes ocupa não só um tempo grande na vida de cada um, mas acaba se tornando parte da identidade e do valor que a pessoa tem perante o mundo e pode ser bastante doloroso ter que acomodar esses aspectos de si ao envelhecer.
Além disso, experiências difíceis de vida que vão se somando podem afetar consideravelmente o estado emocional do indivíduo e diminuir a sua expectativa por dias mais felizes. Afinal, o que resta depois que uma vida inteira já se passou, muitas vezes cheia de sofrimento? Ou então, o que fazer quando os anos dourados de uma vida bem vivida se foram e parece que não há mais grandes etapas de vida a cumprir?
São muitos os questionamentos e sentimentos que podem surgir com o envelhecer
Com o aproximar do fim da vida as pessoas se deparam com o desconhecido, pois a morte costuma gerar medo nas pessoas em geral. Também podem ser tomadas por frustrações pelo que viveram ou gostariam de ter vivido, ou então ter a expectativa de viver um pouco mais daquilo que foi bom. Voltar no tempo não é possível. Parar o tempo e driblar o fim, também não.
Existe, no entanto, algo que está aí no meio, entre o que foi e o que será: o hoje. Uma velhice mais plena provavelmente depende de um processo de aceitação da realidade que se teve ao longo da vida e ainda de buscar vivenciar algo bom no presente. Para tanto, é necessário refletir sobre seu passado e seu futuro. Afinal, o que seria do ser humano se não pensasse nas grandes verdades de sua existência? A proposta seria fazer isso ao mesmo tempo em que se busca qualidade de vida, até onde se é possível, no exato momento em que se está.

Para que isso ocorra, é importante tentarmos desvincular a velhice da ideia popular antes exposta aqui. Envelhecer pode proporcionar experiências únicas que são exclusivas dessa fase de vida, além de que não significa abandonar por completo aquelas atividades que promovem bem-estar em qualquer outra fase da existência: ler um bom livro, passear ao ar livre, encontrar pessoas queridas.
Muitas coisas que a pessoa já fazia, pode continuar fazendo, ainda que tenha que se adaptar para a nova realidade física. Pode por exemplo precisar ler por menos tempo, já que os olhos cansam mais rápido. Ou então precisa buscar atividades que tenham outras pessoas da mesma idade e formar novos vínculos com estes, caso os amigos antigos já não estejam mais aqui.
Além disso, há muitas coisas que podem ser melhor apreciadas com o tempo diferenciado de alguém que tem menos ocupações com trabalho, filhos ou outras atividades que preenchem, por vezes freneticamente, a vida da juventude. Também é comum se deparar, nesse momento mais maduro, com a sabedoria de já ter vivido tantas experiências diferentes, boas e ruins e usar disso para contemplar a vida de uma forma singular.
Adquirir esse novo olhar sobre o envelhecimento pode não ser uma tarefa simples, mas é possível quando se conecta consigo mesmo (algo que a psicoterapia pode ajudar a fazer) ou com outras pessoas, especialmente aquelas que estão passando por esse mesmo momento. Conversar, refletir, trocar, compartilhar, seriam a chave para se viver de maneira mais plena essa fase tão rica da vida.


